19/02/09

"tudo na vida nos diz
que é num momento fugaz
o tempo de um raio-x
que a gente quer ser feliz
vai ser capaz?"

sérgio godinho


além de bom músico, é um belíssimo poeta. aliás, tudo o que escreve soa-me melhor quando lido em folhas do que quando ouvido em canções (salvo excepções predilectas). o toque anárquico-revolucionário que consegue incutir nas letras, misturado com metáforas de amores maiores e exposições da vida do português comum fazem dele um Poeta. daqueles disfarçados e que, por isso mesmo, sabe melhor descobrir.

18/02/09

Para termos a noção do pouco que valemos, basta subtrair ao que somos o que aprendemos, o que lemos, o que vivemos com os outros. É só ver o que fica. Coisa pouca. Sozinho quase ninguém é quase nada. É somente juntos que podemos ser alguma coisa. A verdade é que devemos tudo a quem já deu, já morreu, já disse, já escreveu. E a nossa felicidade devêmo-la, não a nós próprios, mas a quem vive ou viveu ao pé de nós. Será isso o que custa tanto a aceitar.

miguel esteves cardoso, in "último volume"


a mim a aceitação não custa. pelo contrário, tenho plena consciência de que sou as pessoas que tenho, as músicas que oiço, os livros que leio, os filmes que vejo, os países que conheço, os cheiros que respiro, as ideias que me oferecem. sem isso, nem seria eu. seria... não seria eu, pronto.
"The silence came bursting through the walls that night. No chairs or tables between you and me. Instead of the usual small talk we just stayed there and waited. No movements. My eyes got used to the pale light. It was raining. Words came to my mind, but I was to amazed to speak. I felt the silence bursting through me. Violently. No warnings. No needs. I closed my eyes for two seconds and suddenly we knew. There was no fear. Tomorrow was here."

silence 4

17/02/09


roy lichtenstein
se eu um dia tomar ácidos que nem uma hippie de woodstock, vai ser esta a minha banda sonora:

Who's in a bunker?
Who's in a bunker?
Women and children first
And the children first
And the children
I'll laugh until my head comes off
I'll swallow till I burst
Until I burst
Until I

Who's in a bunker?
Who's in a bunker?
I have seen too much
You haven't seen enough
You haven't seen it
I'll laugh until my head comes off
Women and children first
And children first
And children

Here I'm allowed
Everything all of the time
Here I'm allowed
Everything all of the time

(...)

radiohead

15/02/09

sabem quando vão a conduzir e de repente dá "aquela" música na rádio? que começam a cantar com sentimento e emoção, como se fossem conquistar o Mundo? que, mesmo que não seja a música favorita, é a música que mexe cá dentro e dá vontade de ir a correr comprar uma dúzia de cravos vermelhos? ontem foi esta:


"(...) E enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até de um copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida
hoje é o primeiro dia
do resto da tua vida
"

sérgio godinho
eu até quero escrever. mas as mãos não deixam, dizem que têm preguiça; e depois o cérebro ajuda-as gritando que não quer construir raciocínios:

"não verbalizes mais. não construas frases, nem exclames pensamentos. não penses coisas más, nem coisas boas, nem nada. fica assim, apática e muda!"

e eu obedeço, porque o cérebro é a autoridade maior.

10/02/09

no ikea vendem quartos tão bem decorados e pintados e delicados e pré-fabricados e tantos outros adjectivos acabados em -ados que lembram um mundo de encantar.
não era giro se vendessem também vidas?

"- querido, gostei tanto da vida nº 24; o audi na garagem era lindo e os miúdos tinham um ar tão adorável. e a casa no minho? oh querido, gostei tanto...
- amor, acho melhor levarmos a nº 39; sempre tenho garantido o lugar cativo no estádio da luz e a tua mãe já morreu..."


(cheguei ao fundo. fiz uma piada. má, por sinal.)
"a música é a melhor forma de democracia"

alguém no telejornal da sic de 08.02.09

09/02/09

horas. relógios. atrasos. sempre atrasos. elevadores/escadas. não ouvir as aulas. fingir que oiço as aulas. ouvir o som que não vem nas aulas. almoçar onde calha. falar do que se pode. fazer o que os intervalos e as horas mortas deixam. andar no trânsito. parar no trânsito. ouvir jeff buckley no trânsito. chegar a casa. sofá. séries. livros. sono. horas. relógios. atrasos. sempre atrasos...

a rotina anestesia.
pensar? não há tempo.

06/02/09

estou a

c
a
i
r


mas ainda há quem faça de rede de protecção.

só que o chão continua duro e o embate é inevitável.

04/02/09

neste emaranhado de sofá, cobertores e séries em que me encontro consigo atingir o conforto. é como se criasse um escudo contra o exterior e a vida real. e a verdade é crua, mas estou ciente dela: sabe-me bem não estar na vida real. não ter que me vestir, maquilhar, calçar. não ter que andar de metro nem de olhar franzido na rua por causa desta luminosidade irritante que vem do céu. não ter que fazer conversa de elevador nem fingir que sim, que estou interessada, atenta, concentrada, divertida, feliz.
estou no meu casulo, a ser o bicho social que tão bem sei ser.
e sabe-me genuinamente bem, não por não gostar do mundo lá fora, mas por, por agora, gostar mais do mundo cá dentro. de casa. até de mim.
Miranda: We're not going to do this. I can't share. I can't catch up with you. I can't talk. 'Cause if I did... If I told you Tucker moved out... If I told you I haven't slept alone in 12 years... If I told you that my heart hurts so much sometimes, I want to rip it from my little chest with my own hands... I would fall apart. And I don't have time to fall apart. It's not that I'm not happy to see you. I am, but I wish that you would go home so that the choice to talk and fall apart would go away.

grey's anatomy

02/02/09

já não sei que música sou.

nem que música ouvir.

"The worst part is knowing that there is goodness in people. Mostly it stays deep down and buried. Maybe we don't have God because we're scared of the bad stuff. Maybe we're really scared of the good stuff. Because if there's no God, well, that means it's inside of us and we could be good all the time if we wanted. So when we do bad things, it'd be because we want to or because we have to. Or maybe we just need the bad stuff to remind us what the good stuff is in the first place."

the united states of leland

01/02/09

muitas vezes dou por mim a pensar se temos um rumo. mais que isso, se temos um rumo ou se fazemos o nosso rumo. às vezes parece que é a vida que nos faz e não somos nós que fazemos a vida - e esta possível impotência perante o destino, ou outra coisa qualquer, assusta-me.
porém também me aterroriza a ideia de que passa tudo somente por nós: as mudanças, as evoluções, as mentiras, as verdades, todos os substantivos bons e maus... não é mais reconfortante pensar que há algo que nos decide a vida e que nós somos simplesmente marionetas no mundo? que não precisamos de ter coragem e enfrentar fantasmas e memórias e derrotas? que podemos ficar sentados no sofá embrulhados na letargia mundana por sabermos que as coisas vão acontecer, independentemente das nossas acções?

é reconfortante, não é?
para mim não.